A visão geral: Resumimos as conclusões de um artigo científico que trata sobre o sangramento uterino anormal em pacientes com doença tromboembólica venosa tratados com rivaroxabana em comparação com antagonistas da vitamina K.
Por que importa? Porque os resultados do estudo podem guiar a discussão proativa dos médicos com os pacientes que iniciam a terapia anticoagulante.
Por que devemos nos preocupar? A escolha do anticoagulante oral deve levar em conta os riscos de sangramento geral e específicos quando se trata de risco sangramento uterino.
Sangramento uterino anormal é comum durante o tratamento com anticoagulantes para a trombose venosa
O sangramento uterino anormal é comum durante o tratamento da trombose venosa com medicações anticoagulantes, mas o impacto da rivaroxabana (um novo anticoagulante oral direto – inibidor do fator II da coagulação) e dos antagonistas da vitamina K (um anticoagulante de uso há muitas décadas) sobre o sangramento uterino anormal na vida real ainda não foi totalmente explorado.
A rivaroxabana é uma medicação anticoagulante mais recente, amplamente testada e com perfil de segurança amplamente testado e, de forma geral, promove menos complicações hemorrágicas que os antagonistas da vitamina K (o mais comum deles é a Warfarina). No entanto, no dia a dia do consultório médico temos observado uma taxa alta de sangramento uterino anormal (aumento da menstruação em volume e tempo) em usuárias da rivaroxabana.
Muitas vezes essas pacientes usuárias de rivaroxabana entram em contato conosco para reportar esse sangramento, obrigando-nos a mudar a conduta de tratamento anticoagulante
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Nessa postagem discutiremos os resultados de um estudo cujo objetivo foi avaliar o impacto da rivaroxabana em comparação com os antagonistas da vitamina K no sangramento uterino anormal em mulheres em tratamento da trombose venosa aguda sintomática.
A doença tromboembólica venosa (trombose venosa e/ou embolia pulmonar) é uma causa comum de mortalidade e morbidade em todo o mundo, especialmente em mulheres em idade reprodutiva. O tratamento principal para a doença tromboembólica venosa é o uso de anticoagulantes por um período mínimo de três meses. No entanto, o sangramento uterino anormal é um efeito colateral comum da terapia anticoagulante, o que pode afetar a qualidade de vida das mulheres. O objetivo do estudo, aqui resumido, foi fazer uma avaliação do impacto da rivaroxabana em comparação com os antagonistas da vitamina K no sangramento uterino anormal em mulheres com doença tromboembólica venosa.
Como foi comparada a rivaroxabana x inibidores de vitamina K no potencial de sangramento uterino?
O artigo científico descreve um estudo retrospectivo realizado em um único centro, o Hospital Universitário de Leuven, na Bélgica, no qual foram incluídas mulheres com idade reprodutiva tratadas com rivaroxabana ou antagonistas da vitamina K para doença tromboembólica venosa aguda sintomática.
Os dados foram coletados por meio de revisão de prontuários médicos e questionários preenchidos pelas próprias pacientes. As informações coletadas incluíram:
- parâmetros biométricos (peso, altura, índice de massa corpórea);
- fatores de risco para doença tromboembólica venosa (repouso forçado no leito, obesidade, uso de contraceptivo oral hormonal, gravidez, puerpério, trombofilia, história de trombose prévia);
- dados sobre o sangramento uterino anormal.
As pacientes de ambos os grupos de tratamento apresentavam características iguais e foram divididas em dois grupos, um tratado com rivaroxabana e outro tratado com antagonistas da vitamina K, e os resultados foram comparados.
Quais os resultados desse estudo quanto ao sangramento uterino em usuárias de anticoagulantes?
Os resultados do estudo mostraram que aproximadamente dois terços de todas as mulheres relataram sangramento uterino anormal após o início da terapia anticoagulante, sendo que as pacientes tratadas com rivaroxabana apresentaram uma maior incidência de sangramento uterino anormal (73% das pacientes) em comparação com as pacientes tratadas com antagonistas da vitamina K (67% das pacientes).
Seguem os detalhes do estudo científico:
- Sangramento uterino por mais de 8 dias ocorreu em 27% das usuárias de rivaroxabana contra 8,3% das usuárias de Inibidores da vitamina K
- Pacientes em uso de rivaroxabana (41%) necessitaram de mais contato não planejado com seu médico que as usuárias de Inibidores da vitamina K (25%)
- Pacientes em uso de rivaroxabana (15%) necessitaram mais adaptações do tratamento anticoagulante que as usuárias de Inibidores da vitamina K (1,9%)
Além disso, a terapia com rivaroxabana aumentou a duração do sangramento menstrual e aumentou a necessidade de intervenções médicas ou cirúrgicas e de adaptação do tratamento anticoagulante devido ao sangramento uterino anormal.
Entretanto, quando se computou todos os eventos hemorrágicos exceto os uterinos, os inibidores da vitamina K promoveram mais sangramentos que a rivaroxabana.
Conclusão
Embora os anticoagulantes orais mais recentes, como a rivaroxabana, apresentem um perfil de segurança (efetividade de tratamento x complicações) melhor que os inibidores da vitamina K, existe esse aspecto interessante do sangramento uterino que é mais frequente durante o tratamento com a rivaroxabana.
Nesse artigo científico analisado aqui nessa postagem, os autores concluem que os resultados do estudo podem guiar a discussão proativa dos médicos com os pacientes que iniciam a terapia anticoagulante, explicando previamente os riscos potenciais de sangramento uterino para usuárias de anticoagulantes orais, notadamente a rivaroxabana.
Como todo estudo retrospectivo – aqueles que são realizados coletando dados ocorridos no passado através de prontuários médicos, por exemplo – há muitas limitações que podem comprometer o resultado, mas de qualquer forma, os resultados e a experiência prática têm mostrado uma maior tendência de sangramento uterino em pacientes usuárias da rivaroxabana em comparação com os inibidores da vitamina K.
Portanto, novos estudos prospectivos são necessários para avaliar ainda mais o impacto do sangramento uterino anormal na qualidade de vida das mulheres e para avaliar estratégias para diminuir o risco desse efeito colateral.
Este artigo foi baseado no estudo:
- Abnormal uterine bleeding in VTE patients treated with rivaroxaban compared to vitamin K antagonists. DOI: 10.1016/j.thromres.2015.07.030