Álcool e Câncer

O consumo de álcool é um hábito comum em muitas culturas, frequentemente associado a momentos de celebração e descontração. No entanto, muitas evidências científicas têm mostrado que o álcool não é tão inofensivo quanto parece, tampouco existe dose segura ou “saudável”, especialmente quando se trata de câncer. Um volume expressivo de dados recentes têm demonstrado que o consumo de bebidas alcoólicas está relacionado a pelo menos sete tipos de câncer, incluindo câncer de mama, fígado e boca.

Neste artigo, escrito a partir de fontes sérias e recentes, vou reproduzir informações importantes sobre a relação entre álcool e câncer, destacar dados alarmantes sobre o Brasil e o mundo e apresentar as estratégias sugeridas por governos e instituições para reduzir os riscos.

Estimulado pela publicação do artigo: “The U.S. Surgeon General’s Advisory on Alcohol and Cancer Risk” publicado já em janeiro de 2025, resolvi trazer este assunto ao Blog Vascular por sua importância de saúde pública.

O Consumo de Álcool no Brasil e no Mundo

O álcool é amplamente consumido ao redor do mundo. Nos Estados Unidos da América, cerca de 72% dos adultos afirmam beber regularmente, e 20 mil mortes por câncer estão diretam

ente ligadas ao consumo de álcool a cada ano. No Brasil, os números também preocupam: 26,4% da população consome álcool semanalmente, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (Fonte: SINAP, 2019). Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE, 2015) demonstra que 32% dos estudantes entre 14 e 18 anos relataram consumo de álcool no último ano, e 8,9% relataram consumo pesado no último mês. A idade média do primeiro consumo é de 12,5 anos de idade.

Esses dados mostram que o álcool faz p

arte do cotidiano de muitas pessoas, mas a triste realidade é que poucos estão cientes dos riscos à saúde associados, especialmente quando se trata do câncer.

Um outro problema é a glamourização do

consumo de álcool na mídia, especialmente televisão e cinema, que podem desempenhar um papel significativo no incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas. Personagens carismáticos frequentemente associam o ato de beber a momentos de sucesso, diversão e sofisticação, criando uma imagem atraente que pode influenciar o comportamento dos espectadores.

A exposição a conteúdos midiáticos que retratam o consumo de álcool pode predispor indivíduos, especialmente jovens, a padrões de consumo prejudiciais. Essa representação reforça a percepção equivocada de que o consumo excessivo é um comportamento normal e esperado.

Além disso, a publicidade de bebidas alcoólicas utiliza estratégias que tornam o consumo atraente, associando-o a estilos de vida desejáveis e momentos de celebração e alegria. Essa abordagem pode levar a um aumento no consumo, particularmente entre adolescentes e adultos jovens, que são mais suscetíveis às influências midiáticas.

É importante reconhecer o impacto dessas representações e promover uma visão mais crítica sobre o consumo de álcool na mídia. A conscientização sobre os riscos associados e a promoção de mensagens que incentivem o consumo responsável são passos fundamentais para diminuir a influência negativa da glamourização do álcool nos meios de comunicação.

Impacto do Álcool na Saúde e Relação com o Câncer

Não só o câncer, mas diversas outras condições estão relacionadas ao consumo do álcool.

• Câncer: O consumo de álcool é um fator de risco significativo para diversos tipos de câncer, incluindo câncer de boca, faringe, laringe, esôfago, fígado, cólon e mama. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é responsável por cerca de 4% dos casos de câncer no mundo.
• Dados no Brasil: O álcool é frequentemente associado a doenças crônicas, como cirrose hepática e câncer. Estudos indicam que o consumo abusivo de álcool no Brasil contribui para o aumento de internações hospitalares e mortes relacionadas a doenças oncológicas e hepáticas (Fonte: FIRA, 2023).
• Mortalidade: O álcool é responsável por uma parcela significativa de mortes evitáveis no Brasil, incluindo aquelas relacionadas ao câncer. Ele também está associado a 70% dos laudos cadavéricos de mortes violentas (Fonte: Unicruz, 2023).

Quais Tipos de Câncer Estão Relacionados ao Álcool?

O consumo regular de bebidas alcoólicas aumenta o risco de desenvolver câncer em pelo menos sete localizações específicas:

1. Câncer de mama: Em mulheres, mesmo pequenas quantidades de álcool podem aumentar o risco desse tipo de câncer.
2. Câncer de boca, faringe e laringe: Muito comum entre consumidores frequentes, especialmente quando combinado ao tabagismo.
3. Câncer de esôfago: O álcool é um dos maiores fatores de risco para este tipo de tumor.
4. Câncer de fígado: A relação entre consumo crônico de álcool e câncer hepático é amplamente conhecida.
5. Câncer colorretal: Afeta homens e mulheres em proporções semelhantes.

Globalmente, cerca de 741 mil novos casos de câncer foram atribuídos ao consumo de álcool em 2020. Esses números mostram que mesmo doses moderadas de álcool podem representar um perigo significativo.

Por que o Álcool Causa Câncer?

O álcool contribui para o desenvolvimento do câncer por meio de vários mecanismos biológicos, incluindo:

• Formação de acetaldeído: Quando metabolizado, o álcool se transforma em acetaldeído, uma substância altamente tóxica que pode danificar o DNA e causar mutações.
• Inflamação e estresse oxidativo: O álcool aumenta a produção de espécies reativas de oxigênio, que danificam células e tecidos.
• Alterações hormonais: Em mulheres, o álcool eleva os níveis de estrogênio, o que pode estimular o desenvolvimento de câncer de mama.
• Facilitador de carcinógenos: O álcool potencializa a absorção de substâncias cancerígenas, como as encontradas no cigarro.

Esses fatores tornam o álcool um agente carcinogênico (isto é, causador de câncer) classificado como de nível 1 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Impacto Econômico e Social do Álcool no Brasil

No Brasil, os custos diretos e indiretos relacionados ao consumo de álcool ultrapassaram R$ 18 bilhões em 2019. Esses custos incluem despesas com internações hospitalares, tratamentos ambulatoriais e perda de produtividade devido a doenças e mortes precoces. O álcool também é responsável por cerca de 70% dos laudos cadavéricos em casos de mortes violentas, mostrando seu impacto social devastador.

Esses dados reforçam a necessidade de abordar o consumo de álcool não apenas como um problema de saúde pública, mas também como uma questão econômica e social.

Como Reduzir os Riscos?

A boa notícia é que existem estratégias claras para reduzir o impacto do álcool no risco de câncer. Entre elas:

1. Educação e conscientização: Informar a população sobre os riscos associados ao consumo de álcool.
2. Rotulagem informativa: Atualizar os rótulos de bebidas alcoólicas para incluir advertências sobre o risco de câncer.
3. Limitação do consumo: Adotar limites seguros e, sempre que possível, reduzir o consumo de álcool.
4. Orientação médica: Conversar com profissionais de saúde sobre os riscos e buscar orientação sobre como reduzir o consumo.
5. Limitação da exposição do consumo em mídias: Ações para evitar a glamourização do consumo de bebidas alcoólicas e sua associação com o sucesso pessoal e social
6. Regulamentação da propaganda de bebidas alcoólicas

Com relação a este último ítem, a legislação brasileira avançou mas ainda é limitada em sua abrangência. No Brasil, a propaganda de bebidas alcoólicas é regulamentada pela Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, que impõe restrições quanto ao horário, local e conteúdo das peças publicitárias. No entanto, essa legislação define como bebidas alcoólicas apenas aquelas com teor superior a 13 graus Gay-Lussac (13°GL); assim,, ficam de fora produtos como cervejas e vinhos, que possuem teor alcoólico abaixo desse limite.

Para essas bebidas com teor alcoólico abaixo de 13°GL, a regulamentação é realizada pelo Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, elaborado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Esse código estabelece diretrizes para a publicidade, buscando evitar abusos e proteger o consumidor. No entanto, por se tratar de uma norma infralegal e de adesão voluntária, sua eficácia é limitada, especialmente no que diz respeito à proteção de públicos mais vulneráveis, como adolescentes.

Diversos projetos de lei têm sido apresentados com o objetivo de ampliar as restrições à propaganda de bebidas alcoólicas, incluindo aquelas com teor alcoólico inferior a 13°GL.

A redução do consumo de álcool é uma das formas mais efetivas de prevenir diversos tipos de câncer. Mesmo pequenas mudanças nos hábitos podem fazer uma grande diferença para a saúde a longo prazo e as políticas governamentais deveriam ser mais esclarecedoras quanto aos riscos associados ao consumo de bebidas alcoólicas.

Conclusão

O álcool é uma substância amplamente aceita na sociedade, mas suas consequências para a saúde são muitas vezes negligenciadas e até mesmo desconhecidas quando se trata de sua relação com o câncer. Entretanto, a relação entre álcool e câncer é clara e preocupante, especialmente no Brasil, onde o consumo precoce e abusivo é comum.

Se você ou alguém que você conhece consome álcool regularmente, é importante refletir sobre os possíveis riscos e considerar a redução do consumo. Pequenas mudanças no dia a dia podem salvar vidas e prevenir doenças graves.

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Fontes Utilizadas para confecção do artigo: