Anticoagulantes orais, como a warfarina (ou varfarina) são medicamentos usados para prevenir a formação de coágulos sanguíneos indesejáveis que podem levar a problemas graves de saúde, como trombose e embolia. Aqui está uma visão geral dos tipos mais comuns de anticoagulantes orais, seus mecanismos de ação, doses, mecanismos de controle, efeitos colaterais e contra-indicações.
Warfarina ou varfarina
A warfarina faz parte de um grupo de compostos químicos genericamente chamados de cumarínicos. Foi a droga que revolucionou o tratamento da trombose a partir da década de 1950 porque tornou possível o tratamento anticoagulante por via oral, diferentemente da heparina que sempre é administrada de forma injetável.
A história da descoberta dos cumarínicos é bem interessante. Na década de 1920, alguns fazendeiros notaram que o gado morria de um doença hemorrágica que foi chamada de Doença do Trevo Doce. A morte do gado foi atribuída ao feno do trevo doce contaminado por um fungo, em uma época de crise econômica mundial que não permitia o desperdício do feno, mesmo que contaminado com o fungo.
Um fazendeiro de Wisconsin chegou a levar uma de suas vacas ao laboratório de pesquisas que, anos mais tarde, descobriu a causa da morte do animal; uma substância química batizada de dicumarol e que deu origem a diversos anticoagulantes, inclusive a warfarina.
Uma informação curiosa é que a primeira aplicação prática dos cumarínicos foi como raticida. Isso mesmo, veneno para eliminar ratos.
O primeiro uso médico de um cumarínico aconteceu em 1954 quando teve seu registro liberado pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos da América. Em 1955, um ilustre paciente, Dwight D. Eisenhower, presidente estadunidense usou essa medicação no tratamento pós-infarto do miocárdio.
O nome WARFARINA deriva da junção entre WARF (Wisconsin Alumni Research Foundation) e o final da palavra cumaRINA.
Mecanismo de ação da varfarina
A warfarina age inibindo a ação da vitamina K, um cofator importante para a fabricação de componentes da coagulação sanguínea no fígado, mais especificamente os fatores II, VII, IX e X da coagulação.
Doses da warfarina
A dose da warfarina varia de acordo com o paciente e suas necessidades específicas. Por isso, é importante ter um acompanhamento frequente com o médico ou enfermagem especializada para verificar rotineiramente o nível de anticoagulação e ajustar a dose, se necessário.
Controles necessários com o uso da varfarina
O controle da warfarina é feito através de verificação frequente do tempo e atividade de protrombina (TAP) e do RNI (Razão Normalizada Internacional), que são indicadores do tempo e da de coagulação do sangue.
O controle da anticoagulação pelo uso da warfarina é a parte crítica do tratamento, considerando que a dose adequada é individualizada para cada paciente. Não existe dose fixa para a varfarina e, durante o tratamento o mesmo paciente pode ter sua dose mudada várias vezes, na dependência do exame de RNI e TAP.
O paciente anticoagulado com a warfarina é mantido em uma faixa de segurança terapêutica em que previne a trombose sem que ocorra sangramento. Essa faixa terapêutica usa o TAP e o RNI como referência. O médico tenta fazer com que seu paciente esteja naquela faixa terapêutica o maior período possível da duração do tratamento anticoagulante.
Cuidados com o uso da warfarina
A warfarina tem seus efeitos afetados por alguns alimentos e medicamentos. Seu médico orientará sobre os alimentos que podem interferir na absorção e na ação da warfarina.
Alimentos ricos em vitamina K devem ser evitados em excesso pois podem contrapor o efeito do anticoagulante. Em compensação, muitos antibióticos, ao eliminar uma infecção, eliminam também parte das bactérias boas do intestino, e muitas dessas batérias produzem vitamina K. Diminuindo a produção de vitamina K pela eliminação das bactérias boas pode fazer com que a ação da warfarina seja potencializada, aumentando o risco de sangramento.
A warfarina é um excelente anticoagulante e tem muitas aplicações ainda hoje principalmente pelo seu custo mais baixo. No entanto mais cuidado no manejo é importante para evitar que haja sangramento por excesso de dose ou trombose pela dose insuficiente.
A warfarina tem um tempo de ação muito longo e ao interromper o tratamento, seu efeito pode perdurar por alguns dias. Obviamente, à medida que os dias sem o uso do medicamento passam fazem com que seu efeito vá diminuindo e o paciente vá saindo da faixa terapêutica da medicação.
Efeitos Colaterais da varfarina
Efeitos colaterais comuns da warfarina incluem sangramento, dor de cabeça, tontura, náusea. O sangramento é sempre a complicação mais temida e todo cuidado para evitar traumas, cortes e contusões devem ser aplicados à vida do paciente em uso dessa medicação.
Contra-Indicações da warfarina
A varfarina é contra-indicada para pacientes cujo risco de sangramento exceda o benefício do tratamento. Isso inclui pacientes com histórico ou presença de sangramento grave, muitas vezes ocorrendo na presença concomitante de úlceras pépticas, por exemplo; ou que tenham sido submetidos recentemente a cirurgias invasivas.
Outra condição que exige cuidado adicional quando do tratamento com anticoagulantes cumarínicos é a insuficiência hepática, ou seja doença do fígado. Esses pacientes podem já possuir alguma alteração de coagulação porque um fígado doente já não produz adequadamente aqueles fatores de coagulação. Ao usar um cumarínico esses anticoagulantes podem potencializar ainda mais o risco hemorrágico. A insuficiência hepática em si não é uma contra-indicação à warfarina, mas aumenta o risco de sangramento.
Por ser uma medicação que exige monitorização frequente através de exames de sangue para avaliar o TAP e o RNI, pacientes que não tem acesso a esses exames deveriam ser tratados com uso de medicações que não requerem tais exames.
Acenocumarol e Fenprocoumon
Mecanismo de Ação
Acenocumarol e fenprocoumon também são antagonistas da ação da vitamina K, portanto têm ações e efeitos muito parecidos e também são usados para tratamento do tromboembolismo venoso, porém com menor uso nos últimos anos em decorr6encia de medicações mais seguros e diminuição da produção.
Dose
Assim como a warfarina, a dose de acenocumarol e fenprocoumon também varia de acordo com o paciente e suas necessidades específicas. É importante seguir as recomendações do médico ou do profissional de saúde para evitar o risco de sangramento ou trombose.
Controles
O controle destes anticoagulantes é feito verificando o tempo e atividade de protombina (TAP) e RNI.
Efeitos Colaterais
Efeitos colaterais comuns incluem sangramento, tontura, dor de cabeça e náusea.
Contra-Indicações
Assim como a warfarina, acenocumarol e fenprocoumon também são contra-indicados para pacientes com histórico de sangramento grave ou que tenham sido submetidos recentemente a cirurgias invasivas. Além disso, história de alergias a esses componentes são contra-indicações do uso do anticoagulante.
Conclusão sobre os anticoagulantes cumarínicos
A varfarina, assim como o acenocumarol e fenprocoumon, são medicamentos anticoagulantes usados para prevenir ou tratar trombose, embolia e outros distúrbios de coagulação do sangue. Pertencem a uma classe de medicamentos que reduzem a capacidade de coagulação do sangue. O medicamento pode ser desafiador de administrar devido a uma faixa terapêutica estreita, muitas interações com outros medicamentos e alimentos e variabilidade interindividual na resposta. Mas ainda assim são seguros e t6em aplicabilidade prática.
Referências:
Lim, G. Warfarin: from rat poison to clinical use. Nat Rev Cardiol (2017). https://doi.org/10.1038/nrcardio.2017.172