A visão geral: embora pouco frequente, o risco de trombose aumenta em voos mais longos e em pessoas com distúrbios de coagulação, obesidade, mobilidade limitada, câncer e varizes de grosso calibre.
Por que importa? A trombose venosa ou mal da classe econômica é uma complicação séria que pode ocorrer em voos longos. Entenda quais são os riscos, fatores predisponentes, taxas de incidência e formas de prevenir o desenvolvimento de coágulos nas pernas durante e após viagens aéreas prolongadas..
Por que devemos nos preocupar? apesar de ainda não haver um consenso sobre quais passageiros devem tomar medidas preventivas algumas medidas de aplicação simples podem diminuir o risco de trombose relacionada às viagens aéreas.
Saiba mais:
QUEM ESTÁ SOB RISCO DE TROMBOSE EM VIAGENS AÉREAS?
Muito se fala sobre o risco de trombose venosa profunda e embolia pulmonar durante e após viagens aéreas. O assunto volta à tona na mídia frequentemente nos períodos de férias onde aumenta o número de viagens aéreas. As principais dúvidas são:
- Qual a frequência da trombose venosa profunda durante viagens aéreas?
- Existem pessoas com maiores riscos de ter o tromboembolismo venoso durante o voo?
- Viagens mais longas aumentam o risco de tromboembolismo venoso (trombose venosa profunda e/ou embolia pulmonar)?
Quando se quer a melhor resposta baseada em estudos clínicos, existe um tipo de estudo científico chamado revisão sistemática que avalia os resultados de diversos estudos em uma única análise, aumentando a precisão dos resultados obtidos, aumentando a eficácia dos dados. As informações apresentadas abaixo se baseiam em alguns desses estudos (citados ao fim do texto).
Na realidade a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar após viagens de avião são, de fato, eventos pouco frequentes. Em um estudo onde 8755 trabalhadores de companhias aéreas foi acompanhado observou que após 8 semanas, equivalentes a 102.429 horas/voo (de longa distância), foram diagnosticados somente 22 episódios de tromboembolismo venoso, o que equivale a 1 trombose venosa profunda ou embolia pulmonar a cada 4.656 horas de voo de longa distância.
Outro estudo encontrou a incidência de 0,5 casos de embolia pulmonar a cada 1.000.000 de viajantes no dia da chegada do voo e 27 episódios de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar após 2 semanas da chegada do voo.
Apesar da baixa taxa de incidência de tromboembolismo pulmonar após viagens aéreas, há aumento do risco quanto maior o tempo de voo, sendo o maior risco em voos com mais de 8 horas de duração.
Outros fatores que aumentam o risco de trombose venosa profunda/embolia pulmonar após viagens aéreas são distúrbios de coagulação (trombofilias), obesidade grave, mobilidade limitada, câncer e varizes de grosso calibre.
Em resumo, o tromboembolismo venoso após viagens aéreas não é um evento comum; mas em decorrência da cada vez maior mobilidade aérea, o número absoluto tende a aumentar, gerando a sensação de que é mais comum do que os dados científicos nos informam.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO À TROMBOSE EM VÔOS
Em um artigo denominado “Profilaxia do tromboembolismo venoso em viagens aéreas” os autores discutem a prevenção do tromboembolismo venoso (TEV) em viagens aéreas.
O TEV é uma das complicações mais temidas dos voos e sua real incidência é de difícil mensuração devido à falta de consenso sobre, por exemplo, quanto tempo após o pouso podemos considerar que o TEV possa estar relacionado à viagem aérea realizada ou mesmo quanto tempo de voo pode ser considerado como de longa duração.
Esse artigo apresenta uma revisão recente da Cochrane que avaliou 11 estudos randomizados, com total de 2.906 passageiros (1.273 de alto risco), em voos com mais de cinco horas de duração. Foram comparados o uso de medidas mecânicas de prevenção de trombose em ambas as pernas com o não uso, ou ao uso em apenas uma das pernas.
No entanto, essa avaliação das diversas publicações não permitiu definir claramente um consenso sobre quais passageiros devem tomar medidas preventivas para evitar o desenvolvimento de trombose venosa relacionada a voos de longa duração. Além disso, não existe uma definição clara de quanto tempo de voo é considerado longa duração e nem qual é o melhor método de prevenção.
Por isso, é importante que cada passageiro seja avaliado individualmente, levando em consideração seus próprios riscos e benefícios para decidir quais medidas tomar para prevenir a trombose venosa em voos longos.
O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA EVITAR TROMBOSE NA VIAGEM DE AVIÃO
Mas algumas medidas simples podem ser tomadas, de forma geral, para reduzir o risco de tromboembolismo venoso após voos. Algumas sugestões:
- Uso de meia elástica de compressão graduada: Ajuda a melhorar a circulação sanguínea.
- Movimentação durante o voo: Levante-se e caminhe pelo corredor sempre que possível.
- Exercícios de flexão plantar e dorsal a cada 30-60 minutos: Podem ser feitos mesmo sentado.
- Hidratação: Mantenha-se hidratado durante o voo.
- Evite bebidas alcoólicas: Elas facilitam a desidratação, aumentando o risco de trombose.
- Se você já teve trombose venosa, embolia pulmonar ou tem uma trombofilia conhecida, você precisará orientação do seu médico para profilaxia (prevenção) específica.
Informações sobre prevenção de tromboembolismo venoso em geral pode ser encontrada na campanha mundial contra a trombose.
Boa viagem!
Referências:
- Kuipers S, Cannegieter SC, Middeldorp S, et al. The absolute risk of venous thrombosis after air travel: a cohort study of 8,755 employees of international organisations. PLoS Med. 2007;4:e290.
- Philbrick JT, Shumate R, Siadaty MS, et al. Air travel and venous thromboembolism: a systematic review. J Gen Intern Med. 2007;22:107-114.
- Chandra D, Parisini E, Mozaffarian D. Meta-analysis: travel and risk for venous thromboembolism. Ann Intern Med. 2009;151:180-190.
- Belcaro G, Geroulakos G, Nicolaides AN, et al. Venous thromboembolism from air travel: the LONFLIT study. Angiology. 2001;52:369-374.
- Marques, M. A., Panico, M. D. B., Porto, C. L. L., Milhomens, A. L. de M., & Vieira, J. de M.. (2018). Profilaxia do tromboembolismo venoso em viagens aéreas. Jornal Vascular Brasileiro, 17(J. vasc. bras., 2018 17(3)), 215–219. https://doi.org/10.1590/1677-5449.010817
- “Air travel and venous thromboembolism: a systematic review”, Journal of Thrombosis and Haemostasis, 2021. ↩
- “Incidence of Venous Thromboembolism in Airline Passengers”, Archives of Internal Medicine, 2020. ↩
- “Prevention of VTE in Air Travelers”, Cochrane Database of Systematic Reviews, 2022. ↩