Acidente Vascular Cerebral (AVC): a doença que tirou a vida do Papa Francisco

AVC - Clínica Fluxo de Cirurgia Vascular

Conteúdo do Artigo

Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O falecimento do Papa Francisco, aos 88 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 21 de abril de 2025, reacende a atenção sobre essa emergência neurológica que permanece entre as principais causas de morte e incapacidade (Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular – SBAVC). Entender o que é o AVC, como reconhecê‑lo e, principalmente, como preveni‑lo é fundamental.

O que é AVC?

AVC é a interrupção súbita do fluxo sanguíneo cerebral (isquemia) ou o rompimento de um vaso sanguíneo intracraniano (hemorragia), gerando morte de neurônios na área afetada. O dano pode ser irreversível em poucos minutos; por isso o atendimento imediato faz toda a diferença.

O termo acidente vascular cerebral, ambém conhecido como “derrame cerebral” deveria mais propriamente chamado de Acidente Vascular Encefálico (AVE) já que pode ocorrer em todo o encéfalo (cérebro, cerebelo e ponte encefálico).

Quais são os tipos de AVC e por que ocorre?

Os AVCs são divididos em dois tipos:

• AVC isquêmico (≈ 85 % dos casos): obstrução de uma artéria por um coágulo (trombo) local ou por um êmbolo, que é um trombo originado em outra região da circulação, mais habitualmente do coração e das carótidas e que percorre a circulação e vai alojar-se em uma artéria do cérebro, causando privação de sangue em uma área do encéfalo.

• AVC hemorrágico (≈ 15 %): ruptura de um vaso sanguíneo encefálico, geralmente ocorre em portadores de hipertensão arterial crônica ou por aneurismas cerebrais.
Ambos culminam em privação de oxigênio, edema e morte celular encefálica,causando o que chamamos de infarto cerebral.

Ao redor do infarto ecefálico existe uma área em que ainda ocorre algum grau de perfusão sanguínea e é chamada de zona de penumbra — tecido ainda viável ao redor do núcleo infartado — e esta área é o alvo das terapias de reperfusão, intervenções que tentam diminuir a área de dano tecidual cerebral.

Quem está mais exposto ao risco de AVC?

São fatores de risco modificáveis (podem ser controlados)
• Hipertensão arterial (principal)
• Diabetes tipo 2
• Dislipidemia (colesterol ou triglicerídeos altos)
• Tabagismo (fumo)
• Consumo excessivo de álcool ou drogas ilícitas
• Sobrepeso/obesidade e sedentarismo
• Fibrilação atrial e outras arritmias cardíacas

São fatores de risco não modificáveis:
• Idade avançada – risco dobra a cada década após os 55 anos
• Sexo masculino
• Histórico familiar ou AVC prévio
• Etnia afrodescendente
• Doenças genéticas (anemia falciforme, malformações vasculares)

O Papa Francisco apresentava pelo menos 4 fatores de risco conhecidos e muito importantes: idade avançada, obesidade, diabetes e hipertensão arterial crônica, além de outros fatores agudos recentes que podem ter influenciado aiunda mais sobre os fatores de risco, como a recente pneumonia grave que o manteve internado por aproximadamente 1 mês.

“Tempo é cérebro”:

Quando falamos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), a frase “tempo é cérebro” resume um fato muito importante: cada minuto de atraso no socorro significa perda definitiva de tecido cerebral e, portanto, de funções como fala, movimento ou memória.

Origem e fundamento do lema

O termo surgiu nos anos 1990, quando estudos demonstraram que havia benefício significativo na evolução clínica do AVC se o tratamento específico fosse administrado nas 3 primeiras horas após a instalação do AVC.

SAMU (FAST em inglês): como reconhecer rapidamente um AVC

O acrônimo SAMU (Sorriso, Abraço, Música, Urgência) ou FAST em inglês (Face, Arms, Speech, Time) foi criado no Reino Unido em 1998 e rapidamente adotado por serviços de emergência no mundo inteiro para ensinar leigos a detectar um Acidente Vascular Cerebral em segundos. Ele resume os sinais mais comuns de isquemia ou hemorragia cerebral e lembra que “tempo é cérebro”.

S — Sorriso (Face)

• Peça à pessoa para sorrir ou mostrar os dentes.
• Observe se um lado da boca ou do olho “cai”.
• Assimetria facial indica paralisia do nervo facial periférico secundária ao dano cerebral.
Dica médica: a paralisia pós‑AVC costuma poupar a musculatura da testa, ao contrário da paralisia de Bell (paralisia da face).

A — Abraço (Braços)

• Peça que levante ambos os braços à frente, com as palmas para cima, por 10 s.
• Um braço que cai ou não se eleva sugere hemiparesia.
• Fraqueza pode ser sutil: preste atenção à rotação da mão para baixo ou tremor.
Importante: a perna do mesmo lado costuma estar fraca também, mas testar o braço é mais rápido em ambiente extra‑hospitalar.

M — Música ou Fala

• Solicite que repita uma frase simples (“O céu é azul”) ou cantarolar uma música que goste.
• Procure por palavras arrastadas, troca de sílabas ou incapacidade de emitir sons.
• Dificuldade de expressão ou compreensão e articulação imprecisa das palavras são frequentes em AVC do lado dominante do cérebro.

Urgência — Tempo

• Note a hora do início dos sintomas ou do “último momento visto bem”.
• Ligue imediatamente para o SAMU (192) ou 193 (Corpo de Bombeiros) e diga claramente: “Suspeita de AVC”.
• Não espere melhora espontânea; cada minuto de atraso reduz a eficácia da trombólise e da trombectomia.


Por que o SAMU (FAST) funciona?

• É um protocolo que cobre manifestações presentes em mais de 90% dos casos de AVCs antes à chegada ao hospital.
• É simples o suficiente para ser aprendido em campanhas de mídia, escolas e locais de trabalho por pessoas sem conhecimento médico específico.
• Direciona o foco para sinais motores e de fala — os mais específicos — e reforça a urgência.

Complicações frequentes

O AVC é uma condição clínica grave que pode levar à morte, complicações e sequelas graves e debilitantes.

Segundo a SBAVC e o Ministério da Saúde, são complicações do AVC:
• Paralisia ou fraqueza permanente (hemiparesia)
• Afasia (dificuldade para falar/compreender)
• Disfagia (dificuldade de engolir, com risco de engasgo e broncoaspiração)
• Dificuldades cognitivas e de memória
• Depressão pós‑AVC
• Dor neuropática ou espasticidade
• Infecções pulmonares/urinárias e trombose venosa devido à imobilidade

Tratamento: a corrida contra o relógio

  1. Atendimento de emergência
    • Tomografia de crânio no tempo mais rápido possível para diferenciar AVC isquêmico do AVC hemorrágico.
  2. AVC isquêmico
    • Medicação intravenosa com medicações que desfazem o trombo em até 4,5 h do início dos sintomas.
    • Remoção mecânica (por cateterismo) em até 24 h em centros médicos habilitados.
  3. AVC hemorrágico
    • Controle rigoroso da pressão arterial, reversão de medicações anticoagulantes, possível cirurgia para drenar hematoma ou tratar aneurisma rôto.
  4. Suporte geral
    • Monitorização em UTI/Unidade Neurovascular, controle de pressão arerial, dos metabólitos, da função renal, da glicemia, prevenção de trombose venosa e outras complicações.
  5. Reabilitação precoce
    • Fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e apoio psicológico iniciados ainda no hospital melhoram a independência funcional.

Prevenção do Acidente Vascular Encefálico

• Meça a pressão regularmente e trate a hipertensão.
• Mantenha glicose e colesterol sob controle.
• Pare de fumar e modere álcool.
• Pratique 150 min de atividade física/semana.
• Alimentação equilibrada, pobre em sal, açúcar e gordura saturada; rica em frutas, verduras, fibras.
• Consulte o médico sobre aspirina ou anticoagulantes se tiver fibrilação atrial ou alto risco.
• Realize check‑ups anuais, sobretudo após os 50 anos com seu cardiologista e cirugião vascular.

Alguns exames de imagem como ultrassom-doppler das artérias carótidas pode ser um exame importante para identificar placas nas artérias carótidas queu podem levar ao AVC. Assim como o ecocardiograma pode identificar trombos no coração de portadores de arritmias cardíacas.

Saiba mais sobre Doppler de carótidas e como ele pode ajudar a identificar placas.

O seu médico ou a sua médica poderão orientar você no controle dos fatores de risco e quanto à necessidade de exames de imagem.

Em resumo:

O AVC é uma urgência médica silenciosa que pode atingir qualquer pessoa, mas cuja maioria dos casos poderia ser evitada com controle de fatores de risco. A morte do Papa Francisco lembrou ao mundo que mesmo pessoas com grande disponibilidade de assistência médica podem sucumbir à doença. Reconhecer rapidamente os sintomas, buscar socorro imediato e adotar hábitos saudáveis são as melhores formas de honrar sua memória e reduzir o impacto desse “derrame” na sociedade.

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