5 Fatos Surpreendentes Sobre a Doença Arterial Periférica (DAP)

Doença arterial periférica - Clínica Fluxo de Cirurgia Vascular

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5 Fatos Surpreendentes Sobre a Doença Arterial Periférica (DAP)

A Doença Silenciosa que Afeta Mais de 230 Milhões de Pessoas no Mundo

Aquela dor na panturrilha ao subir uma rua íngreme ou percorrer distâncias maiores e que você culpa pela idade ou por um dia cansativo pode ser o primeiro sinal de alerta de uma doença vascular que afeta mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo: a Doença Arterial Periférica (DAP). Caracterizada pelo bloqueio parcial ou total das artérias que fornecem sangue para as pernas, geralmente causada por aterosclerose, essa condição é muito mais do que um simples incômodo.

Embora não seja tão conhecida quanto a doença cardíaca, a DAP é cercada por desinformação e equívocos. Este artigo vai lhe revelar cinco das verdades mais surpreendentes e impactantes sobre a DAP. Essas descobertas desafiam o que muitos pensam que sabem sobre a saúde das artérias e podem mudar a forma como você encara uma simples dor na perna.

Não é uma Doença “Secundária”. É Tão Grave Quanto a Doença Cardíaca.

No passado, a comunidade médica por vezes considerava a DAP uma manifestação “secundária” da aterosclerose. Uma condição “menos crítica” do que a doença nas artérias coronárias ou cerebrais. Essa percepção está completamente errada. Pesquisas robustas confirmaram que a DAP traz um risco de mortalidade e eventos cardiovasculares graves que é totalmente comparável ao da doença arterial coronariana (DAC).

Isso significa que um diagnóstico de DAP não é apenas um alerta para as pernas, mas um sinal de que todo o sistema cardiovascular está em alto risco. Um artigo de revisão publicado na prestigiada revista Nature Reviews Disease Primers coloca isso de forma inequívoca:

“Pacientes com DAP têm um risco aumentado de eventos cardiovasculares e mortalidade, comparável ao daqueles com doença arterial coronariana (DAC).”

Ignorar a DAP é ignorar um fator de risco tão letal quanto um problema cardíaco já diagnosticado.

A Maioria dos Pacientes Não Apresenta o Sintoma “Clássico” de Dor na Perna.

Quando se fala em DAP, o sintoma “clássico” que vem à mente é a claudicação intermitente: uma dor do tipo cãibra nas pernas que aparece ao caminhar e que desaparece com o repouso. No entanto, a maioria das pessoas com DAP não apresenta esse sintoma.

Estudos mostram que aproximadamente 30% a 60% das pessoas com DAP em ambientes de cuidados primários não relatam qualquer dor nas pernas ao se exercitar. Muitos são completamente assintomáticos ou têm sintomas que não reconhecem como sendo relacionados às artérias.

Em alguns pacientes, a capacidade de caminhar já está limitada por outras condições, como insuficiência cardíaca ou problemas nas articulações, assim eles nunca se exercitam o suficiente para que a dor seja desencadeada. O resultado é que a doença progride silenciosamente, e o primeiro sinal de um problema grave pode ser uma úlcera na perna que não cicatriza, sem nenhum aviso prévio de dor.

Parar de Fumar Ajuda, Mas o Dano Demora Mais Para Desaparecer do que na Doença Cardíaca.

Não é segredo que fumar é um dos principais fatores de risco para a DAP, aumentando em quatro vezes a probabilidade de desenvolver a doença. Parar de fumar é, sem dúvida, a intervenção mais importante para qualquer paciente. Entretanto, o que chama a atenção é a persistência do dano causado pelo cigarro nas artérias periféricas.

Após para de fumar, a lesão coronariana doo portador de doença arterial coronariana (DAC) leva cerca de 20 anos para retornar ao nível de um não fumante. Para a Doença Arterial Periférica, esse período é muito maior. A pesquisa mostra que o risco de DAP leva 30 anos para voltar ao normal após a cessação do tabagismo.

Essa diferença de uma década ressalta o quão profundo e duradouro é o dano que o fumo causa especificamente nas artérias das pernas. É um lembrete poderoso de que, embora nunca seja tarde para parar, a prevenção é fundamental.

Para se Exercitar, “Sentir a Dor” é Realmente Mais Eficaz.

O exercício físico é um pilar principal do tratamento da DAP nas fases iniciais. A recomendação padrão é caminhar regularmente para melhorar a distância percorrida e a qualidade de vida. Contudo, uma descoberta recente e contraintuitiva mostrou que o tipo de exercício faz toda a diferença.

Em um ensaio clínico randomizado chamado LITE, os pesquisadores compararam dois grupos de pacientes: um que caminhava em baixa intensidade, em um ritmo confortável que não causava dor, e outro que caminhava em alta intensidade, em um ritmo que provocava a dor isquêmica característica da claudicação.

O resultado foi que, após 12 meses, o grupo que caminhava em alta intensidade, que caminhava “sentindo a dor”, demonstrou uma melhora significativamente maior na distância que conseguia percorrer — em média, 41 metros a mais — em comparação com o grupo de baixa intensidade. Embora pareça o oposto do que se deveria fazer, forçar o corpo a ponto de sentir os sintomas isquêmicos parece estimular melhores adaptações no sistema circulatório e muscular, o que chamamos de compensação clínica.

Não é Apenas um Problema de “Encanamento” nas Artérias.

A visão simplista da DAP é que ela é um problema de “encanamento”: as artérias estão entupidas e o sangue não flui bem. Embora os bloqueios ateroscleróticos sejam a causa principal, a dificuldade de caminhar na DAP é resultado de um problema muito mais complexo.

Além das obstruções nas artérias principais, outros fatores contribuem significativamente para os sintomas:

  • Disfunção endotelial: O revestimento interno dos vasos sanguíneos não funciona corretamente, prejudicando sua capacidade de dilatar e regular o fluxo sanguíneo.
  • Problemas microvasculares: A circulação nos vasos sanguíneos mais finos (capilares) também é comprometida, dificultando a entrega de oxigênio aos músculos.
  • Consequências neuromusculares: A falta crônica de oxigênio (isquemia) causa danos aos nervos e às fibras musculares da perna, levando à fraqueza e à perda de função que vão além da simples falta de fluxo sanguíneo.

Em resumo, a DAP é uma doença que afeta a saúde do membro de forma integral, e não apenas o seu “encanamento”. Ela compromete os grandes vasos, a microcirculação, os nervos e os próprios músculos, tornando-se uma condição muito mais complexa do que se imaginava.

Uma Doença Comum, Grave e Subestimada.

A Doença Arterial Periférica é muito mais do que uma simples dor na perna associada à idade. É uma condição sistêmica, grave e muitas vezes silenciosa, com complexidades que desafiam percepções antigas. Ela é tão perigosa quanto a doença cardíaca, frequentemente não apresenta os sintomas clássicos e é profundamente afetada por fatores de risco como o tabagismo, com danos que persistem por décadas.

As estratégias de tratamento também estão evoluindo, mostrando que abordagens como o exercício de alta intensidade, podem trazer os melhores resultados. Entender que a DAP afeta a saúde do membro de forma integral — e não apenas as artérias principais — é crucial para desenvolver terapias mais eficazes no futuro.

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